Por detrás da chuva...

Euna Britto de Oliveira

A chuva, com sua grade transparente, fina e fria, trava.

Impede viagens, impede visitas, impede as vistas...

Mas libera o verde!

É a festa das plantas, que ganham roupa nova!...

Por detrás da chuva,

A uns cem metros de distância,

Aquele homem é quem?

O que traz nas mãos aquele homem?...

Daquelas árvores, só conheço a copa e a casca.

Arborizam o meio da avenida...

Não sei seu nome,

Não sei se dão frutos,

Nunca as vi floridas,

Mas têm o tronco chitado como o pelo de um dálmata

E isto me impressiona e agrada.

As árvores fugidas do paraíso encantam!

E a muitos fazem perder o juízo...

Seus frutos não são proibidos,

Mas são tão disputados!...

Quem é aquele homem?

Visto em vôo rasante,

Não se mostra bem.

Parece um vulto do além...

Já o caminhão à minha frente, à noite,

Era uma oração ambulante,

Com seus escritos sacros.

Por causa da sua oração de libertação,

Eu não queria perder de vista a traseira daquele caminhão...

Mantive-me próxima a ele o quanto pude.

Nos quebra-molas da avenida,

Quebrava minha fraqueza e minha insegurança...

No livro da vida,

A vez dos oprimidos serem libertados,

A voz dos esquecidos, enfim lembrados!...

Os mendigos dos quais São Vicente de Paula cuidava,

No século XVI, em Paris,

Furaram os séculos

E chegaram ao Brasil do Século XXI.

“Pobres, sempre tereis entre vós”.

Necessidades mudam de endereço,

Necessitados mudam de adereços.

Não sei o que fazer com o mundo,

Mas Deus sabe.

Quando eu quis saber o que seria de mim,

A certo momento,

Em determinada situação,

Deus foi desconversando...

Distraindo-me com outros assuntos...

Que até me esqueci de esperar a resposta

Que Ele ainda não podia me revelar...

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 26/02/2008
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