... À BEIRA DAS FALÉSIAS (3)

RASTROS

O meu futuro está traçado,

tenho que esquecer o passado...

Minha vida segue os rastros

da falsidade que me afasto.

Estou sofrendo com o presente,

os amigos estão ausentes.

Estou esperando o tempo passar...

Rezando num altar,

estou rogando a Deus:

Por que só eu,

por que só eu,

por que só eu?!

Só eu tenho que suportar certas

perguntas.

Só eu tenho que ser vítima

dessas putas.

Só eu tenho que ser o que

não sou.

Só eu tenho que ficar com o que sobrou.

Contudo, deixa pra lá,

um dia isso ainda vai mudar.

Aí sim eu vou poder falar

pra todos que me fizeram

chorar

que sou só-mulher apaixonada.

E essas perguntas, não! não

mais irão me maltratar.

RAPSÓDIA NOTURNA

Ruídos indefinidos

embalam o corpo

num ritmo descompassado

e alucinante.

O êxtase do movimento

inconstante

toma forma,

contorna e torna

o corpo dormente.

Já não se sente

movimentos atraentes.

Luzes fora de foco,

olhos embaçados,

corpo suado,

som ensurdecedor.

Adrenalina supera a dor,

loucura à flor da pele.

A razão apenas sugere, e geme...

U N D E R G R O U N D

SER E NÃO SER

M: _ Ando nos limites da sua insegurança,

vago perdida em suas revelações,

procurando ser e não ser confusões.

Mistérios ferindo meu coração-criança...

N: _ Vôo no infinito da sua imaginação,

meu coração soluça,

tentando ser e não ser.

Debruço-me sobre seus erros de contradições...

M: _ Tropeço em meio às palavras,

esquecendo a frase correta...

N: _ Tentando ser e não ser deserta,

deitada em qualquer estrada...

M: _ Entristeço-me,

pensando ao contrário de mim e

tentando ser e não ser

sendo o que não sou...

CADA UM DE NÓS

Em cada história um drama,

em cada drama uma morte,

em cada morte um grito,

em cada grito um corte,

em cada vida uma angústia,

em cada angústia uma ferida,

em cada ferida o pus, em cada pus a despedida.

Em cada amor uma paixão,

em cada paixão uma desilusão,

em cada desilusão um pranto,

em cada pranto uma transfusão,

em cada corte um grito,

em cada ferida o pus,

em cada morte o vivo,

em cada vivo algo inexpressivo.

HIDDEN

Tremo num ritmo lento

atento por dentro

de um sofrimento.

Choro, sinto medo,

não amo, me engano.

Acredito, minto, sofro...

Desespero-me, ainda espero, anseio...

Alegro-me, mas logo me entristeço.

Perco os sentidos, olhar atrevido,

não me comprometo...

Esconde-se em mim, não estou afim.

Vivo, algum dia morro.

Ainda tremo, sorriso supremo,

sofrimento extremo.

ELAINE BORGHI

primavera de 2005