ENTRE O PASSADO E O FUTURO (3)

LINHAS CUMPRIDAS

Linhas cumpridas

que prefiguram o futuro.

Um mármore...

A realidade e o apreço,

mas virá um cântico novo.

É quadrangular a cidade

dos sonhos...

Linhas cumpridas,

esmeralda esculpida,

sonho e festival espiritual,

mármore frio...

Linhas cumpridas.

É demais o fardo,

linhas cumpridas,

de ânsia e de desespero.

Caminho íngreme,

pedra níquel no

bolso,

o arcabouço

dos crucificados.

Linhas cumpridas

que nos encaminham...

Pedra disforme,

mármore terra

e linhas cumpridas.

O alvorecer que se demora,

caminho concreto,

luz pelas linhas,

linhas pelas curvas,

barragem no hemisfério,

linhas cumpridas e sofridas.

PONTE

Ponte sem fim,

cadeado em fúria.

Cúria sem cura,

ferida cálida

no assombro

da calada.

Prata para o fim,

pedra para o fim,

castigo na calada,

postigo sem abrigo.

Cálido sonho recolhido,

ponte,

o cerne na passagem,

a estiagem febril

dos sonhos,

séculos por fim,

tragédias recomeçando.

Febre intensa,

ponte sem fim.

A explosão...

Postigo na candeia.

Luz inebriante.

Cada servo,

cavaleiro andante.

Ponte sem fim,

luz na eternidade,

pontes de uma cidade encantada.

Postigo à beira da estrada.

Ponte no viés.

A saída para uma

nova cidade.

DESCRÉDITO

Decrépito descrédito,

descrédito,

enganos breves com marcas profundas.

Descrédito, descrédito

decrépito.

Crise abismal,

abismo de crises.

Não voam as perdizes,

não voam e nem embelezam o céu.

Descrédito.

Ao longe uma estrela

caindo em descrédito.

O que foi a juventude

senão tão depressa decrépito?

Decrépito em descrédito.

OPERAÇÃO

Operas o coração

nas óperas sem confusão

que desorientam

o seu ritmo.

Deveras estás sôfrego,

com o fôlego a faltar,

e sempre operador

de amarga condição,

teme o que fazer.

Operas a mente

a sua condição

baixa, tacanha.

E as óperas estranhas

que desorientam

o fôlego tacanho

de estranha atitude.

É mais do que operação,

aritmética de

amarga condição.

Tudo a desorientar

sem verbo, com o ritmo

do domínio covarde.

Eu opero

o bolero das classes

dentro de mim.

Não conseguir controlar

a terrível condição

e, dia a dia, de operação,

sem canção, opero

a violência de minhas

atitudes no que não quero.

Tu operas, também,

o teu coração,

na mesma luta de baixa condição.

É a operação do restrito,

do caminho e o granito...

É a cirurgia do ódio,

que implica em agonia,

quando se obriga o ódio

no dia...

É mais a violência de uma baixa

condição

sufocada pelo o espaço do teatro do coração.

FERNANDO MEDEIROS

primavera de 2005