PÁTRIA ARMADA

Vem da sarjeta, vem do gueto infecto,

Do cais do porto, das noites animais,

A horda insana que se joga em repto,

Infantes podres em tons espectrais

Formando assim um virulento aspecto

De uma vanguarda vã, passionais.

E ao “civismo” os cães declaram guerra

Já que ultrajados e párias da terra.

Sem ter raiz, a tropa suicida

Se veste de excremento e cheira cola,

Parteja a morte, come e bebe a vida

Que o capital lançou, granada-esmola

Do grande arsenal que é uma ferida

Olhando do buraco da sacola

Vazia, de aversão e fel inchada,

Assim caminha a minha pátria armada.

Essa epopéia vil, degenerada,

Dedico aos deuses e reis do império

Que alimentam a minha pátria armada

Com confiança e paz de cemitério.

Só vós, a cujos reinos a manada

Doa com fé a sua mente estéril,

Preparas, como perito soldado,

A bomba de efeito retardado.

A justiça de Deus tarda e não falha,

Diz o dogma cristão ocidental,

Por isso, enquanto aguarda sua mortalha

O infante vai traçando todo o mal

De que é capaz sua garra, e estraçalha

A divina formação piramidal

Das elites, celestiais pilares,

Comprometendo as forças regulares.

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 10/03/2008
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