ESTRÉIA
Puxaram-me pra fora
Cai dentro de uma luz fria e branca
Dezenas de dedos e vozes me manipulavam
Chorei
Lembro-me como se tivesse acabado de acontecer
Todos aqueles rostos se voltando em minha direção
Parado a porta da sala de aula, sob a guarda da diretora
Estava completamente nu
Apertei a alça da lancheira com tanta força
Que as marcas que restaram de mim permaneceram na mão pelo resto do dia
O encontro seria às dezessete horas
Quanto mais disfarçava o nervosismo
Mais evidente ele se tornava
Misturando-se ao cheiro de hortelã do meu chiclete
As dezenove, só havia o caminho de casa
E ela não viria por ele
Entrei ostentando o melhor de mim
Mas não era suficiente
Estranhos no ninho sempre causam desconfianças
Somente meu trabalho diria quem eu realmente era
Até lá, eu seria apenas um arquivo dentro da sala mal iluminada
Desfilei diante de todos
O altar estava mais distante que a minha certeza de querer alcançá-lo
Somente com o trajeto já iniciado, lembrei-me da gravata torta
Tarde demais, já não estava mais perfeito
Mesmo que me omitisse
As fotos me denunciariam mais tarde
Ainda bem que a atração principal era a noiva
Estava ao lado do médico
Vi quando o puxaram
Era um menino
Meu menino
Sorri
[rh.15.03.08.20:02]
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