ESTRÉIA

Puxaram-me pra fora

Cai dentro de uma luz fria e branca

Dezenas de dedos e vozes me manipulavam

Chorei

Lembro-me como se tivesse acabado de acontecer

Todos aqueles rostos se voltando em minha direção

Parado a porta da sala de aula, sob a guarda da diretora

Estava completamente nu

Apertei a alça da lancheira com tanta força

Que as marcas que restaram de mim permaneceram na mão pelo resto do dia

O encontro seria às dezessete horas

Quanto mais disfarçava o nervosismo

Mais evidente ele se tornava

Misturando-se ao cheiro de hortelã do meu chiclete

As dezenove, só havia o caminho de casa

E ela não viria por ele

Entrei ostentando o melhor de mim

Mas não era suficiente

Estranhos no ninho sempre causam desconfianças

Somente meu trabalho diria quem eu realmente era

Até lá, eu seria apenas um arquivo dentro da sala mal iluminada

Desfilei diante de todos

O altar estava mais distante que a minha certeza de querer alcançá-lo

Somente com o trajeto já iniciado, lembrei-me da gravata torta

Tarde demais, já não estava mais perfeito

Mesmo que me omitisse

As fotos me denunciariam mais tarde

Ainda bem que a atração principal era a noiva

Estava ao lado do médico

Vi quando o puxaram

Era um menino

Meu menino

Sorri

[rh.15.03.08.20:02]

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Ricardo Henrique
Enviado por Ricardo Henrique em 15/03/2008
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