Desapontamento

Na janela, sob o nublado céu, me recomponho

em verso branco, ao som cintilante da cidade

e suponho que resta de mim a castidade

do velho frio com que me deito

Atrela-me o que de fato eu sou: cadela

de matilha desgarrada, forasteira da vida

que com a trela a esmagar a ferida

guarda para si a dor no peito

Enjaulada, como amante, em desvio ato

na imoralidade das coisas, eu me calo

ao som do cacarejar de um galo

que me julga vil em pleito

Na janela, sob o céu chuvoso, me largo

e olho para cama com desinteresse

pois nada vale afago quando foder-se

é o único interesse de quem me deito