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O olhar desfila pela natureza morta,
Da tela em branco, da rua em curvas tortas...
O pintor pinta a tela, e nela, ele mesmo se revela
A ferida se cicatriza mas continua a doer...
Na ausência de pensamentos, muito mais a sofrer...
A inspiração não vem...
No copo vazio de vinho ele vê o fim...
Mas nem mesmo assim... a inspiração o visita...
E isso o irrita...
O vento visita de leve a casa beje de seus pensamentos,
Suja e sem paredes nos quartos do fundo,
Na memória, não há mais memórias,
Nem histórias,
Nem frio, nem calor...
Nem pranto e tampouco amor...
Ele se mantém neutro em treze maneiras diferentes,
Das mais simples às mais indecentes...
E a inspiração finge estar presente,
Ele, assim como ela, se torna pouco convincente...
E assim, nesse belo ato de duplicar a realidade
O pintor finge estar vivo...
O pintor finge estar vivo,
E mente a si mesmo, se engana, se regenera...
E joga todos os seus sonhos fora,
E lá fora, no pomar da praça, não há mais nenhum pingo...
Nenhum pingo sequer de inspiração para ser descoberta,
Ele deixa a porta e a mente aberta,
E as poucos a loucura se manifesta junto á embriagues...
Agora ele faz, o que nunca fez...
Se joga por entre as paredes,
Quebra os copos, quadros e garrafas...
Sem inspiração, o pintor se torna inútil e indeciso
E mais uma vez o pintor finge estar vivo.