ELO COM A NATUREZA
A canarana desce boiando o paraná
No ritmo das águas, indolente
Depois de arrancada pela corrente
Vai ficar enroscada, mais acolá.
As águas seguem seu vai-e-vem constante
Traçando o curso do rio em formação
Tirando, botando, mudando o chão
Entra ano, sai ano, a todo instante.
Na seca ou na cheia não apressa o passo
Impõe ao caboclo o ritmo da vida
Oferece-lhe, em suas entranhas, a comida
A trilha, o rumo, a régua e o compasso
Esta troca de favores é da natureza
Homem e rio se entendem muito bem
Negociam entre si , sem um usar vintém
Tem no respeito mutuo a fortaleza.
Mesmo quando o rio parece alterado
Ameaçando em seu banzeiro a montaria
Ou invadindo do caboclo a moradia
E escondendo seus peixes no alagado
Mesmo assim não há quebra de contrato
Ainda que o “civilizado” não o entenda
O caboco, em seu tapiri, na sua tenda
Sabe que o rio sempre é sensato.
O paraná segue com suas águas calmas
A canarana o acompanha de bubuia
O ribeirinho seca a canoa com a cuia
E agradece ao rio, que é a sua alma.