ELO COM A NATUREZA

A canarana desce boiando o paraná

No ritmo das águas, indolente

Depois de arrancada pela corrente

Vai ficar enroscada, mais acolá.

As águas seguem seu vai-e-vem constante

Traçando o curso do rio em formação

Tirando, botando, mudando o chão

Entra ano, sai ano, a todo instante.

Na seca ou na cheia não apressa o passo

Impõe ao caboclo o ritmo da vida

Oferece-lhe, em suas entranhas, a comida

A trilha, o rumo, a régua e o compasso

Esta troca de favores é da natureza

Homem e rio se entendem muito bem

Negociam entre si , sem um usar vintém

Tem no respeito mutuo a fortaleza.

Mesmo quando o rio parece alterado

Ameaçando em seu banzeiro a montaria

Ou invadindo do caboclo a moradia

E escondendo seus peixes no alagado

Mesmo assim não há quebra de contrato

Ainda que o “civilizado” não o entenda

O caboco, em seu tapiri, na sua tenda

Sabe que o rio sempre é sensato.

O paraná segue com suas águas calmas

A canarana o acompanha de bubuia

O ribeirinho seca a canoa com a cuia

E agradece ao rio, que é a sua alma.

Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 22/03/2008
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