ENTRETEMPOS

Consigo saber de um lugar, entretempos,

onde me perco das palavras necessárias,

me desarmo dos gestos coerentes

adotados pelo tempo de uma vida inteira,

e balanço nesse espasmo da vez primeira,

como um estai batendo em nortes diferentes,

caçando praias e dunas imaginárias,

onde me assino, em pegadas e tormentos.

Consigo saber de um lugar, entretempos,

onde as noites são a razão dos dias arrastados,

o subterrâneo de um espaço cercado

por flores raras e exacerbadas alegrias,

onde entre mofos e tantas poesias,

mergulho em versos de coração rasgado,

me perco em textos inacabados,

naufragando em desejos e sentimentos.

Consigo saber de um lugar, entretempos,

onde o mar, quase manso, me espera sorrindo,

em praias e palmeiras que o vento esqueceu,

afobado em devaneios e correrias.

Para lá navego todos os dias,

a proa em espumas, nesse mar tão meu,

de horizonte sempre renovado e infindo,

levando nos lábios, o sal dos pensamentos...

Março 2008