Borderline

“...mas, de agora em diante não me zango mais, todo mundo é assaz gentil para comigo, mesmo quando caçoa de mim, e, dir-se-ia, mais gentil ainda naquele momento. Eu riria de bom grado com eles, não tanto de mim mesmo, quanto para lhes ser agradável, se não sentisse tal tristeza ao contemplá-los. Tristeza de ver que não conhecem a verdade, esta verdade que só eu conheço. Como é duro ser o único a conhecê-la!”

Fiódor Mikhailovich Dostoievski

Border Behind Enemy Lines

Quando as singulares nuances se encontram

Formando não delas, mas a partir

Criando não com elas mas do que lhes é imposto

Surge a folha que percorre o espaço aéreo das cidades

Viscosa se esgueira pelas correntes de ar poluído

Lívida faz-se sentir sólida

Integrada se vê em destaque em meio a tudo

E sente a angústia de ser a detentora única de sua verdade

Parte, porém, sem o destino claro dos seriados

E quando flutua não anseia

Não distende a compreensão alheia sobre si

Parecendo cordeira apenas aos olhos vendados & comuns

E assim segue o curso com orvalhos na face

Esquivando-se no espaço alienado

Engolindo a química deletéria dos domesticadores

E perseguindo tudo que lhe traga de volta, com colisão

Mas o que não sabem esses observadores, incompetentes

É que o curso não é alheio

Ele contém disfarces com sinais que domino

E, furtiva, tenho-me na palma da mão em linhas assimétricas!

Senhores... senhores apressados e insossos...

Não aguardem de mim

além da surpresa minha prima-irmã pura

além da beleza que se guarda em tudo que é profundo, & obscuro

E quando, por fim, ao fim, me virem fulgurar

Sorridente e imóvel

Não me cubram com as repetições punitivas

Aprendidas nos jardins cinzas da inação de divina inspiração

Deixem-me quietinha flutuando seca

Estalando ao mínimo contato

Beijando tudo que tanto me fascinou

Amando tudo porque desconheço, da dor, do sentido, o fato