O HOMEM QUE PENSAVA QUE SABIA

O homem que não sabe amar

não respeita a cama onde dorme

e, sequer, sabe dormir comportado.

Ele se deita qual um paxá, satisfeito,

sem jeito nem arte alguma ao se deitar.

O homem que não sabe amar,

não sabe fazer um café da manhã

e acorda sem calor ou cheiro de sol.

Ele, sempre de mau humor, irritadiço,

não sabe como despir a luz com a mão.

O homem que não sabe amar

engole torradas, arrota palavrões

e briga no trânsito do saldo bancário.

Ele, sempre ansioso, vive apressado,

sem jeito de parar o coração taquicárdico.

O homem que não sabe amar,

lê no jornal a sessão de Economia,

em meio a grupo seleto, fala dialeto.

Ele não vai aos cinemas nem à livrarias,

e, se lhe sobra a tarde, vai a um happy houer.

O homem que não sabe amar,

não sabe de cor o celular da mulher,

e, mesmo a querendo, não cuida nem liga.

Ele, quase sempre, prefere rir com as vadias

noites cheias de graça, para ele, vazio de rua.

O homem que não sabe amar,

baba na fronha, no lençol, na mulher,

e, como marido, promete mais que cumpre.

Ele, quase egoísta, quer viver só pelo prazer

não importa se, ao lado, alguém está a arder.

O homem que não sabe amar,

descobre, tardiamente, que nada sabe

e que o amor é um exercício sem tabuadas.

Ele, como todos os homens comuns, goza à-toa,

é egoísta até no prazer. E nem sabe beijar na boca.