TICO, TICO... CAN, CAN...

COSTUME ALÉM LÍRICO

Cântico novo que encerra

esplanada.

Vôo contíguo que vai

e se aproxima.

Paira, sempre, sob o verso,

uma rima rebrilhando acrílico...

Costume do falar que se convém...

Não... além lírico:

tico, tico... can, can...

Cântico folha em borbulhar nova,

respingo da glória antepassada.

E vai-se que existe

catarse por sobre o triste

novo... Ligação sublime.

Costume então resumido,

jamais presumido.

Ais do preâmbulo,

sonâmbulo espero, lírico sobrevivente

suavizando no que é mais

do que se convém.

Por sobre o erro, a

esperança, em forma acrílico, está lá Belém,

rebrilha a possibilidade de acerto.

Costume que se canta já é lírico,

sangue inspirado esquece a intriga

do falso quarteto

sob o gueto ressurreto... além

que concede, além lírico,

sede real a nossa confluência.

PALESTRA

Sempre busco uma palavra

escrita.

Sempre busco na lavra

a verdura predileta.

Sempre tosco me parece o meu presente.

Sempre morno me parece o meu instante.

E o sorriso não é, assim, irradiante.

Sempre busco em meu casebre

a flor que esteja leve.

Porém, o sorriso não é,

tão assim, confiante.

Na cama de pedra deitei a insônia,

até quero me afogar na Amazônia.

Porém, busco uma palavra... escrita:

corre desesperada a fita e,

em desespero, busco: a palavra!!

Então, sempre farto de ofensas,

guardo minhas súplicas nas despensas.

E o que parecia tão brilhante

não foi, assim, tão brilhante.

Porém, busco nesta seara,

dentre os arvoredos,

a fruta que saiba, a mais forte, a de raiz-forte!

Porém, busco nesta luz acanhada

o deslumbramento e a palavra encantada.

Sempre busco a palavra certa,

a palavra peregrina,

e a paisagem não está deserta...

Sempre busco a vitória régia,

em ninguém deve existir a inveja.

Sempre busco um som na orquestra

e a poesia numa palestra.

Sempre busco esta linha destra,

sempre busco da poesia o filtro,

a poesia em forma de palestra.

FERNANDO MEDEIROS

verão de 2006