Travessia

Desta rua, quando tempo não havia ainda,

Eu queria alcançar o outro lado.

Mas a rua era uma ponte infinda,

E o dia acabava sempre inacabado.

Não sei se o que me era desejado

Era mesmo aquilo que eu queria.

Se ambicionava propriamente o outro lado

Ou queria mais a travessia.

Quando, enfim, cheguei ao outro lado,

Vi que outro lado não havia.

Que o lado de lá fora apagado

Enquanto o de cá se destruíra.

E entre um lado mudo e um olvidado

Vão meus passos como se fossem passo alheio

Por esta rua de abril imaginado

Onde o silêncio é vasto, e o horizonte, meio.