DONA MORTE

Quem és tu, Dona Morte?

A dona da minha vida

Ou a dona da minha sorte?

Por que me apontas o dedo

E me chamas ao teu lado

Atirando-me o dardo

E atingindo o meu medo

Com tua voz cavernosa?

Tu és uma deusa

De braços erguidos

E uma tez tenebrosa

E olhos caídos

Tu és o meu fardo

Que me pesa nas costas

E me corta a corcunda

Do meu pobre costado

De forma tão imunda

Por que me convidas

Ao teu leito horroroso

Se ali não vou rir

Nem ao menos chorar

Ou então respirar

Em teu seio escabroso?

Eu não te venero

Mas te respeito

Pois do meu peito

Sai um ar com esmero

Gritando por teu nome

Sem sede, nem fome

És tu, Dona Morte

Minha dona de consorte

Aquela que me consome

Com teus vermes infames

A dilacerar-me as carnes

E vituperar-me o meu nome

És tu meu destino

Que faz do meu leito

Um pobre jazigo

Rasgando meu peito

E meu pobre intestino

És tu, Dona Morte

Aquela pobre dama de porte

Pois contigo sou alma ferida

Qual Babilônia perdida

Que se perde sem vida

Mas depois de caída

Ela sai e ressurge

Em sua próxima vida.