BOI VELHO

marruá inerte no pasto

ruminando auroras

antes de fecundar o dia

boi de outras eras

a ossatura descomunal

suportando os músculos

de mármore

sob os cascos de bronze

léguas infinitas se passaram

boi do meu avô

que agora pelas retinas embaciadas

me espreita

boi de tantas vidas

neste mundo esquecido

pelo tempo

boi de todos os silêncios

pedra hermética encerrada

em si mesma

alheio a toda humana solidão

boi das horas mortas

pastando no exílio

a grama verde que o sol

não secou

eh, boi

colosso de chumbo

fincado no chão

eh, boi

escuta o berrante dos anjos

que a tropa vai partir

vai, boi

e leva consigo para além destes pastos

e além dessa vida

o seu mistério encantado

* * *

Goiânia, 19 mar 2008

Glauber Ramos
Enviado por Glauber Ramos em 19/04/2008
Código do texto: T952295