A DECADÊNCIA DA PALAVRA MODERNA

Nos tempos mudados

No raiar do dia

Somos privilegiados

Pela tecnologia

Telefonamos mais

Para o trabalho ou o lar

E até falamos demais

Pelo nosso celular

Vivemos na Grande Era

Da Comunicação

Num tempo que nunca espera

O valor da próxima ação

Escrevemos no mesmo instante

A carta dos nossos amores

E enviamos à nossa amante

Pela tela dos computadores

Assim é a rapidez

De nossas máquinas velozes

Pois fazem um de cada vez

Nossos textos e nossas vozes

E, no entanto, vos digo

Em cada palavra que vejo

Não é como a carta de um amigo

Mas como resto de sobejo

São palavras confusas

De teor tão miúdo

Que aquele que abusa

Não tem nenhum conteúdo

Uns maltratam a língua

Com sua linguagem de desertos

Com a palavra sempre à mingua

Nas mãos de analfabetos

Abusam de muitos sinais

Usam linguajar tão estranho

Com a mão de meros banais

Escrevem de modo tacanho

Mas esses novos escritores

De tão torpe literatura

São apenas os novos atores

De uma obra e infértil cultura

E o teor de suas mensagens

Tem conteúdo tão zero

São como simples bobagens

Falando de lero-lero

Abusam de toda torpeza

De suas gírias e expressões

Pois lhes falta a delicadeza

De expressar suas emoções

E os tristes autores

Em seu viver diário

Não podem exprimir suas dores

Com seu pobre vocabulário

Nem ao menos desejam

Extrair lá do fundo

Toda a riqueza que almejam

Os grandes poetas do mundo

Nem expressar eles conseguem

De toda a alma, a nobreza,

Pois muitos deles seguem

As artes da grande pobreza

E assim voltamos infantes

Em nossas eras modernas

Ao mesmo linguajar de antes

Ao dos homens das cavernas.