CROMOS

CROMOS

Uma linha

aloja-se no infinito,

e vai findando um

verso.

No céu se reparte

a estrela

no último jogo de arte.

Esta peneira leve

sabe das penas,

que vão se confortando

no espaço e no tempo.

Cromos...

É visto que somos

carregando as artérias

nas diversas cronologias.

Uma linha,

uma bandeira,

o que será que

se aloja no infinito?

Sinto o granito

alastrando raízes sob

as pedras que ensinam

a viver.

E vivendo,

também, me alojo no

infinito;

me alojo... pensando

mais na respiração

que no grito.

Depois viria, por certo,

o grito.

Um apito

vigora numa

comunicação estelar.

É ... mas e a insegurança, onde vou guardar?

O infinito é imensidão,

e a Terra tem as suas pedras...

Drástico caminho, não?!

Eleva muito,

sendo certo

que embaraçam

tantas possibilidades.

Posses de poesias

e de habilidades,

o caminho não é

um sacramento frio.

Porém, tento fugir,

alguém ainda não me viu.

A fuga é o infinito.

Visto com o tempo

minhas rugas.

Alguém, logo atrás,

vai com o passo de tartarugas

ou mesmo o raciocínio,

ou mesmo o fascínio

num fascículo rudimentar, no qual instrumentos

não almejam ser instrumentos,

e os homens

não almejam ser homens

e sair instrumentos.

Como o infinito

se aloja

cromos nas cores?

Como nas cores

das plantações de soja,

nas flores, no banquete

da terra em sua próspera colheita.

O infinito aloja-se sem receita,

aloja-se matemática e

filosoficamente,

historicamente...

Uma busca singular,

um breque não há

de frear.

Escreverei até quando

obscuro.

Cromos...

As retas saberão

o que somos?

Tarda a sonhar,

o próximo capítulo nos

aguarda.

Na esquina me espreita um guarda.

Cromos...

O infinito

alojando-se,

quanto calor na Terra,

quanta crueldade na Terra!

Interrogação no pensamento?

Exclamação no comportamento?

O infinito

demonstrando-se

em sua iluminada alternativa.

Quanta vida na Terra,

quantas alternativas na Terra

dentro de um só contexto!

para além de qualquer ano bissexto,

dentro do radiar de emoções,

no radar dos corações.

Quanta ansiedade na Terra,

quanta ansiedade na Terra...

... o tecido

ensangüentado

do próximo ferido.

O ouvido

tapado –

algo referido.

Mesmo tapado,

algo referido.

Acima,

boca

cavoucando,

com estampido,

as amarguras

do ouvido

despertando

o gemido.

O ferido

levanta-se

mesmo

ensangüentado

o tecido.

FERNANDO MEDEIROS

verão de 2006