PAI-MÃE-AMIGO.

Meu pé de moleque

Ligeiro

Quer jamelão.

No alto do pé,

Bem alto,

Estão os melhores,

Os mais graúdos.

Meu pé ligeiro

De moleque travesso

Já subiu

O tronco do jamelão.

Meu pé de moleque

É meu cérebro no chão.

Porque menino

Age num impulso só.

Meu pé de moleque

Habilidoso

No jeito da escalada

Encontra a furquilha exata

Pra chegar ao melhor cacho.

Num lance

Muito rápido,

Apanho o cacho

E sacudo com força.

Por trás dele,

Escondida

Estava uma casa

De marimbondo chumbinho.

Não larquei do cacho,

Meu troféu de moleque.

Levei as ferroadas que merecia

E as que não também.

Inchando a face,

Inseguros os

Meus pés de moleque,

Fraquejei.

Lançado do alto,

Bem alto,

Do pé de jamelão,

Estatelado no chão

E o queixo quebrado.

Ensangüentado,

A roupa rasgada,

Chego à casa

Com o meu troféu,

Num berreiro

Nos céus ouvido.

Meu pai

Já viúvo,

mãe e pai,

Me olha ungido

Pela maternidade adquirida.

Banha-me no tanque do quintal.

Limpa as minhas feridas,

Me faz curativo.

Meu amigo.

Depois,

Sentados juntinhos

Meu pai-mãe-amigo

e eu, pé de moleque,

Comendo jamelão.

jose antonio CALLEGARI
Enviado por jose antonio CALLEGARI em 10/01/2006
Reeditado em 10/01/2006
Código do texto: T96928