QUEDA E RESSURREIÇÃO

O FIM DA INFERIORIDADE HUMANA

QUEDA...

Agora que já és um derrotado,

inútil te parece a esperança...

Foi a miséria que te deixou um fraco,

foi a marca de humilhação nos teus erros.

Foi teu corpo pressionado por correntes

ou tuas mãos

que construíram

a própria prisão para teu cadáver.

Agora que já és um rebaixado,

sentirás o suicídio a roer-te as carnes,

encolherás em tuas asas molhadas

pelo mormaço

de noite mendigas.

Ah! tu descobrirás o sofrimento do homem inferior,

terrivelmente louco, sem qualquer amor,

sentindo-se uma criatura imperfeita.

Na amargura do desgosto, cada vez mais presente,

serás doente, com olhos deprimidos pelos minutos,

e o chão receberá o conflito de tuas lágrimas,

necessitado do maior carinho desta terra.

E tal será o desânimo,

que as órbitas de tuas energias

ficarão imóveis... prostradas.

Acabadas estarão as luzes de teus cérebros

e teus objetivos serão sempre obscuros.

Ah! tu gritarás pelos pobres,

pelos trabalhadores oprimidos, pelos perdidos,

pois sentirás nos ossos carcomidos

o infortúnio de um mendigo.

Cético será todo o teu pensamento.

Tu afundarás no lodo da depressão,

e não haverá qualquer chama

que trará o impulso cristão de quem morreu.

A ambição te rebaixará ainda mais.

Vozes noturnas dos ventos te atormentarão:

_ Jamais serás humano!

Então, a inferioridade dominará teu corpo.

Teus olhos vermelhos não terão mais lágrimas

e a ironia desabará sobre teu sorriso,

deixando tua face contorcida pela brusca agonia...

RESSURREIÇÃO...

Assim tu cairás, perdido em meio do caminho,

e entregue estarás ao peso de um mundo conturbado,

olhando poeticamente para um céu

no qual nenhuma estrela, nenhum planeta,

nenhuma esperança é inferior.

Verás, então, mediante a misericórdia deste céu,

a mais completa harmonia,

que não despreza, não inferioriza,

não divide, mas une todas as vidas...

Verás a face do Criador, a harmonia

que, aos perdidos, ressuscita,

pois são destes que o universo necessita.

Necessita curar os doentes

e pacificar os enlouquecidos.

Abrandar os sofrimentos dos pobres.

Renascer os sepultados,

para que eles se harmonizem e se

aprofundem na paz dos séculos.

Por isso, tu contemplarás o luzeiro infinito,

e, por sobre o lamacento caminho,

abrirás os braços para a maravilha que pulsa

dentro de tuas veias humilhadas...

E o milagre pulsará!

E não mais sentirás esfarrapado n’alma,

pois a humilde harmonia receberá tua vida.

Entoarás os acordes divinos,

que testemunharão a manhã do teu renascimento.

e perceberás, enfim, maravilhosamente,

que tu és a obra magnífica e eterna de todos os tempos.

FERNANDO MEDEIROS

verão de 2006