Destino
Destino...
Ê menino travesso!
Cheio de desvãos, desvios e emboscadas
Não dá para te levar a sério
Escolhe os piores momentos
para as suas traquinagens
Sossega um pouquinho
Me dê a chance de andar sozinho
Confie em minhas atitudes
Deixe-me escrever a minha própria história
Pare com essa mania de surpreender-me
a cada esquina de possibilidades
Não seja tão frio
Assistindo ao meu ingênuo empilhar de cartas
para depois com um sopro
desmoronar todos os meus sonhos
Às vezes, duvido de sua inocência
Sua meninice
E penso que na verdade
É um velhote cruel, turrão
Que só faz o que deseja
Só acredita em suas verdades
Seus caminhos e atalhos
Não compreendo.
Se gosta tanto de manipular
Ditar normas, diretrizes
Por que não vira gente?
Por que não assume essa difícil
combinação de carne e espírito?
Covardia!
É mais simples ficar de fora
Assistindo, brincando de viver
Enquanto eu,
Uma mera peça de seu jogo
Me vejo freqüentemente
Inseguro e insatisfeito
Entremos em um acordo:
Já que tem medo de ser...humano
Ao invés de vir na frente
Desbravando cada trilha
Preparando cada tocaia
Ande ao meu lado
Para juntos chegarmos a um lugar comum.
José Abbade, in BAGAGEM DE MÃO - poesia em verso e prosa,
Editora CEPA, Salvador, 2007