A grávida
Embalada na cadeira,
Entre o silêncio dos muros
E o futuro, segura sobre o vestido
Aquela imensa barriga.
Por um segundo
Esquadrinha o seu corpo,
Vê a foto antiga,
Percebe a sua juventude exaurida.
Num pranto rápido se desespera.
Bem devagar ele na barriga se agita,
Sente a tristeza bradar
E avisa que quer amar.
Ali sozinha,
Mais que depressa
Desenha na alma uma imensa alegria.
Mãe de felicidade começa a chorar.
Com carinho excessivo em suas mãos,
Vai rascunhando a sua relação com a cria,
Noite e dia a se balançar de frente ao portão da rua,
Como a esperar.
Vai solfejando verbos mudos.
Vai costurando os sapatinhos, quando os têm.
Alimentando a alma de aflição ou de desejos.
Escrevendo gradativamente no seu seio meigo
A esse mundo louco, que o amor tem que continuar.