A grávida

Embalada na cadeira,

Entre o silêncio dos muros

E o futuro, segura sobre o vestido

Aquela imensa barriga.

Por um segundo

Esquadrinha o seu corpo,

Vê a foto antiga,

Percebe a sua juventude exaurida.

Num pranto rápido se desespera.

Bem devagar ele na barriga se agita,

Sente a tristeza bradar

E avisa que quer amar.

Ali sozinha,

Mais que depressa

Desenha na alma uma imensa alegria.

Mãe de felicidade começa a chorar.

Com carinho excessivo em suas mãos,

Vai rascunhando a sua relação com a cria,

Noite e dia a se balançar de frente ao portão da rua,

Como a esperar.

Vai solfejando verbos mudos.

Vai costurando os sapatinhos, quando os têm.

Alimentando a alma de aflição ou de desejos.

Escrevendo gradativamente no seu seio meigo

A esse mundo louco, que o amor tem que continuar.

Alberto Amoêdo
Enviado por Alberto Amoêdo em 07/05/2008
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