VIAGEM ESCURA E LUMINOSA
Forte chuva caindo nas folhas,
na poeira e nas calçadas.
Esse é um dos milagres da Vida.
Breve instante de reflexão
que ajuda a olhar para dentro do ser.
E então, lá no poço infindo,
uma ânsia incrível.
Ânsia de sentir o açoite da solidão interna.
Noite de chuva na Natureza
e o olhar voltado para a noite negra
do profundo âmago.
Como retratar fielmente essa estrada escura?...
Por que esse sufocar de tempo e hora?
Por que a ânsia do não acomodamento?
Por que o grito surdo e bravio
nos confins do ser,
semelhante ao devastar do vento
nas folhas das árvores?!...
Por que a descida constante
à escuridão do âmago?
E a subida dolorosa que vai rabiscando
com estiletes?...
Oh, dor imensa, surda, abafada!
Como suportar o desbravamento
dessa floresta silenciosa?
O desbravar contínuo que esmaga e esfarela
a dor da ternura,
que sente-se sufocada num espinheiro
como que asfixiando rosas.
Poeta, por que você enxerga o verdadeiro, o real?
A sua linguagem sidérea não é entendida.
Como abrigar tão lindos mundos
e estar tão só em meio à força estonteante da Beleza?
Você vê, você fala e está tão só,
abrigando as cores que estão por detrás
da Névoa Fragílima.
Por que esse trilhar tão único
como se lá adiante estivesse
grande luz a esperá-la?
Mas você vê a luz, ela lá está iluminando
a noite escura do labirinto
que envolve o seu ser tão profundo.
Ó visionária, aquela luz está bem perto de Deus!
Você lá chegará e será ofuscada
pelo seu brilho fulgurante.
Depois você faz o caminho da volta
e o seu olhar reflete a saudade
daquela Região Celeste.