SE EU FOSSE POETA
( À Mário Quintana)
Se eu fosse poeta
Falaria sobre o silêncio
De esperanças pulverizadas e utopias
Escreveria versos sobre olhares embaçados
Naufragados no mar oceano da agonia
Se eu fosse poeta
Comporia uma canção sobre o vento
Que atravessaria almas e ruas esquecidas
Como uma valsa muito muito lenta
Tocada no tom da mais sublime sinfonia
Se eu fosse poeta
Recordaria uma poesia adormecida
Nas folhas de um livro amarelado
Versos impressos no cristal do tempo
Sobre os restos de um instante inacabado
Se eu fosse poeta
Tal qual uma tela de Van Gogh
Expressaria sentimentos com tintas e letras
Recitaria o amor que não passou
Guardado no brilho intenso das estrelas
Se eu fosse poeta
Seria o dono de todas as riquezas:
O mapa do sol e o caminho das nuvens seriam meus
O sonho traduzir-se -ia como a luz em um vitral
Rimas acesas no fundo do mais turvo breu
Se eu fosse poeta
Contaria histórias que ouvi
Pelos caminhos que vem e vão
Miraria no papel uma caravela
Mareando no horizonte azul da imensidão
Se eu fosse poeta
Não gravaria meu nome no mármore ou na pedra
Deixaria sobre a mesa o meu reflexo
Aberto como em primaveras os botões de flores
Pois a vida é simples como um simples verso
(Ah , se eu fosse poeta...)