SE EU FOSSE POETA

( À Mário Quintana)

Se eu fosse poeta

Falaria sobre o silêncio

De esperanças pulverizadas e utopias

Escreveria versos sobre olhares embaçados

Naufragados no mar oceano da agonia

Se eu fosse poeta

Comporia uma canção sobre o vento

Que atravessaria almas e ruas esquecidas

Como uma valsa muito muito lenta

Tocada no tom da mais sublime sinfonia

Se eu fosse poeta

Recordaria uma poesia adormecida

Nas folhas de um livro amarelado

Versos impressos no cristal do tempo

Sobre os restos de um instante inacabado

Se eu fosse poeta

Tal qual uma tela de Van Gogh

Expressaria sentimentos com tintas e letras

Recitaria o amor que não passou

Guardado no brilho intenso das estrelas

Se eu fosse poeta

Seria o dono de todas as riquezas:

O mapa do sol e o caminho das nuvens seriam meus

O sonho traduzir-se -ia como a luz em um vitral

Rimas acesas no fundo do mais turvo breu

Se eu fosse poeta

Contaria histórias que ouvi

Pelos caminhos que vem e vão

Miraria no papel uma caravela

Mareando no horizonte azul da imensidão

Se eu fosse poeta

Não gravaria meu nome no mármore ou na pedra

Deixaria sobre a mesa o meu reflexo

Aberto como em primaveras os botões de flores

Pois a vida é simples como um simples verso

(Ah , se eu fosse poeta...)

Franciane Cruz
Enviado por Franciane Cruz em 13/01/2006
Reeditado em 08/11/2006
Código do texto: T98193