Ode à Humanidade
Olhamos sempre pra frente
Sem esquecer o passado
Fingimos às vezes que a gente
Se importa com o maltratado
Mas a verdade é que a maioria
Se olham desconfiados
Pensando que aquele ou o outro
Vai te lançar de cara no asfalto...
E nos trancafiamos em casa
Com medo de nossas ruas
Nos colocamos em celas
E dizemos não à censura
Choramos ao vermos na TV
Crianças assassinadas
E nem chegamos a perceber
Nossa solidariedade manchada...
Queremos fama ou fortuna
Uma mistura das duas
'Dinheiro não traz felicidade!'
É o que dizemos às alturas
Escrevemos com toda a razão
De problemas que são só nossos
Brigamos, fazemos sermão
E voltamos ao fundo do poço...
E quem é que nunca sentiu
A vontade de ver a luz
De dizer que lutou e que viu
As pessoas tão longe da "cruz"
Mas nos entulhamos aos domingos
Para ouvir palavras de amor
Na segunda nem mais lembramos
Do que nos emocionou...
E escrevemos de novo
Com medo da morte de espirito
Para disfarçar a verdade
Tapar o sol com um vidro
Pois o que se teme é a morte
Da alma, do corpo, da sorte
Se teme o total esquecimento
Se teme o dia do corte...
Tememos o desconhecido
Nos aventuramos na vida
Procuramos a cura pro vírus
Enquanto tomamos vacina
Lotamos salas de espera
Falando mal do serviço
Mas queremos é ver a novela
Não queremos perder o capítulo...
Trabalhamos toda semana
Escravos do nosso dinheiro
Fingimos que não é pela "grana",
Que amamos o nosso emprego
Mas no final de semana
Na mesa de bar com amigos
"Metemos o pau" no patrão
No que nos deu o serviço...
E depois de tudo isso
Não dividiremos o pão
Viramos a cara ao mendigo
E nos chamaremos cristãos
Iremos dormir como anjos
No sonho embalado pelos cânticos
Rezaremos com fé ao Espirito
'Protejei-nos, pois nós somos santos...'