Que crer?
Eu acendia umas velas já queimadas
Que se apagavam num nicho rústico
Numa cova, no chão, não preparada,
Sob o olhar de orgulho de minha mãe
Que se sentia bem com a inveja de minha tia.
“Ele é muito crente”, era o que ela dizia
Ao acabar num suspiro de alegria.
E num sobreiro sombrio, julgava-se ver a luz.
A luz que luzia para três pastorinhos
Nesse dia em que, sozinhos,
Eles viram a Virgem Maria
“Deve ser Deus a agradecer” senti-o eu
Com medo de não ser visto.
Quem me dera ter sido um novo Cristo
Para poder mostrar
que também eu sabia amar.
Na minha solene juventude
Sem ferro ou fogo que me desse dor
Eu era incerto e sabia tão pouco
Que só queria alguém parado a ver
O bem que eu fazia
Como fora ensinado.
“A minha vida é longa
E eu estou tão parado...”
Foi meu impulso de corrida
Para o fim do caminho.
Havia sol no cimo das copas
E calor no meu peito com o dever cumprido.
Comprida a estrada de terra e pó
Onde outros antes de mim
Tinham deixado a sua dó.
Numa vingança em querer ser mais do que todos
Eu era uma dança já dançadas por outros tolos
No meu destino havia velas apagadas que não via.
Suspiros de perdão por eu pecar.
Em minha casa havia choros que eu não ouvia
Persianas fechadas com medo da imensidão.