Simplicidade
O olho do quarto emoldura o quintal.
Parreiras tristes pelo roubo das filhas.
Fonte apaixonada pela vitória-régia.
Pássaros de canto esquecido.
A casa aprisiona a vontade de sair.
Mimar a pedra, a chuva e o limo.
Filhos do comodismo das moedas.
Viciados em lençóis, portas e talheres.
O sótão alimenta-se das lembranças febris.
Presenteia saudades e fotos vazias.
A cozinha com aroma de mãe.
Pães com sabor de sol.
A sala recebe com luzes ácidas.
Móveis autoritários, quadros de moral.
Não prosseguir, rebelar-se.
Ser andarilho dos desejos.
Viver as coisas simples.
Nascer janela afora.
Cair e rolar na grama rodeada por gentis margaridas.
Saudado pelas formigas, aquecido pelos colibris.
Retornar ao ventre dos sentimentos.
Completo e seguro nos braços das borboletas.