Simplicidade

O olho do quarto emoldura o quintal.

Parreiras tristes pelo roubo das filhas.

Fonte apaixonada pela vitória-régia.

Pássaros de canto esquecido.

A casa aprisiona a vontade de sair.

Mimar a pedra, a chuva e o limo.

Filhos do comodismo das moedas.

Viciados em lençóis, portas e talheres.

O sótão alimenta-se das lembranças febris.

Presenteia saudades e fotos vazias.

A cozinha com aroma de mãe.

Pães com sabor de sol.

A sala recebe com luzes ácidas.

Móveis autoritários, quadros de moral.

Não prosseguir, rebelar-se.

Ser andarilho dos desejos.

Viver as coisas simples.

Nascer janela afora.

Cair e rolar na grama rodeada por gentis margaridas.

Saudado pelas formigas, aquecido pelos colibris.

Retornar ao ventre dos sentimentos.

Completo e seguro nos braços das borboletas.

Fabrício Pires
Enviado por Fabrício Pires em 12/02/2006
Reeditado em 17/02/2006
Código do texto: T111093