Flor do Espanto

Enquanto a flor do mundo se arrepia,

Eu, tão denso, mouro e cristalino,

Empenho meu espírito na coragem,

À margem do meu tosco descaminho.

À beira do meu tempo

Eclode em desamparo,

A mais secreta flor do desencanto;

Meu pranto se amedronta

E foge léguas

Enlouquecidamente dissoluto;

Um bruto diamante ri da rima

Escarra na poesia que me resta;

Palavras estancadas pelo medo

Se exprimem, anciosas, pela fresta,

Com provas tão cabais da minha culpa,

Num estranho dossiê que não condena,

Mas antes, me oferem a garupa

E explodem, num dilúvio de falenas.

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 24/02/2009
Reeditado em 26/02/2012
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