Três sonetos da natureza

Soneto dos pássaros

Desperta da noite que acaba, criança,

Olha.

Saia para fora ver a passarança

Na flora...

Desperta, criança, que acaba a noite

Emudeça.

Deixe-os cantar, que já o sonho foi-se

Não esqueça...

Entre para dentro, escreva versos mil

Destaca-se o que tu não vês, mas que bem-te-viu...

Acaba a noite, criança, desperta,

Que o sonho regressará na hora certa.

Não chores realidade mais que fada!

Desperta, criança, da noite que acaba...

07/09/1994 - quarta-feira – 08h35

Soneto da paineira

O vento sopra, errante,

E cada vez mais distante

Pedaços de nuvem conduz...

E o poeta, perdido, procurando luz!

Tempo de paineira semear.

Espinhos no corpo protegem seu lar.

Tapete branco sobre gramado verde...

Saio para fora, criança, sem ver-te!

Não importa espinho

Nem desenfeite da grama...

Natureza, poeta, mostra caminho!

Mais beleza que a chama.

Divino vento, traz-me semente inteira...

Porque o poeta, sozinho, contempla a paineira!

06/08/1994 - terça-feira – 14h08

Soneto do jardim

Acendam as luzes

Do jardim,

Que a noite não

É boa companheira.

Carreguem as cruzes

Do meu fim,

Que a imaginação

Corre solta e certeira.

No jardim tem ipê que já floriu,

Tem folhagem, flamboyant e margaridas

E tem grama deitada no chão.

O jardim suporta flor que não sorriu,

Suporta a dor árvores caídas,

Mas não suporta minha solidão.

10/09/1994 – sábado – 18h52

Elias Araujo
Enviado por Elias Araujo em 07/05/2006
Código do texto: T152154