O CASAMENTO DE CINDERELA
OSVALDO ANDRÉ DE MELLO*
Jamais eu vi baile igual!
O Príncipe e a Cinderela
em louvor do bom final
como dançaram!... Disse ela:
“Eu mal posso acreditar:
juntos, amor, para sempre!”
saíram a rodopiar
Pelo salão. “Você mente:
“Como sabe de detalhes?
Como ouviu bem os nubentes?”
De mentira não me fale:
estive mesmo presente.
Ao Reino fui convidado,
buscaram-me de carruagem,
por mercê de influente criado
que conheci na viagem
aos dois lados de Istambul.
A festa durou três dias.
Alegre o Palácio Azul
para as bodas recebia
multidão do mundo inteiro.
Aos bailes inesquecíveis!
Do primeiro, sorrateiros,
os príncipes mui felizes
fugiram pra lua de mel.
Mas prosseguiu a festança:
Música, dança, era o céu!
Nunca eu vi mais comilança!
As caças de todo tipo,
as iguarias do oriente...
Nada disto eu tinha visto
E apreciado fartamente!
Refrescos, vinhos, licores,
tanto doce sem igual...
Amigo, quando te fores,
põe no maior embornal
um de tudo pros leitores”,
disse o fraterno criado.
Obedeci. Os leitores
ficarão deliciados.
Não demorei a sair:
havia chão a vencer.
A tarde estava a cair
e eu de cansaço a morrer.
Adormeci. E acordei
quase em casa. Mas, então...
O tempo fechou... Eu sei...
Águas de março, trovão...
A carruagem custava...
Os cavalos vagarosos
atolados já estavam.
Eu e o cocheiro nervosos
saímos na tempestade,
tínhamos água à cintura...
e a carruagem, que maldade,
afundava com a doçura,
as mais finas iguarias
do casamento real.
A água é que digeria
e nisto só há um mal:
Conto história sem aroma,
cor, gosto pro paladar.
E trancaram-se em redoma
os leitores sem manjar!
*Osvaldo André de Mello nasceu em Divinópolis, estudou Artes Cênicas no Teatro Universitário em Belo Horizonte e voltou para Divinópolis, onde se formou em Letras. Sua primeira publicação foi aos dezenove anos, com A Palavra Inicial (1969), e o poeta publicou ainda Revelação do Acontecimento, Cantos para Flauta e Pássaro, Meditação da Carne, e A Poesia Mineira no Século XX, entre outros. No teatro, dirigiu peças de grandes autores, como T. S. Eliot, Nelson Rodrigues e Emily Dickinson. É responsável pela montagem e direção do espetáculo APARECIDA NOGUEIRA IN CONCERT.