ANDANÇAS

I

À noite, andando pela rua

Numa completa abstração,

Eu sinto a paz que me atenua

O espírito da agitação.

Livre, guiado pela lua

E sem o mal da solidão,

Eu sinto a alma toda nua

E sinto nu meu coração.

E me é tanto o prazer de andar

Alheio às desgraças do mundo

Que eu sinto minhas pernas no ar

E sinto meu ser mais profundo.

E a mim que importa chegar,

Se o mundo é um saco sem fundo...

II

Sigo na noite, sozinho, abatido,

Sem rota, sem destino, sem futuro.

Procuro, mas não encontro o que procuro,

É como se eu tivesse me perdido.

Sigo na noite, tristonho, vencido,

Contemplando além o caminho escuro,

Como um anjo peregrino, perjuro,

Diante da face do Desconhecido.

Vou deixando minhas pegadas no chão

E me projetando na imensidão,

Como um judeu errante, nu, proscrito.

Para trás vou deixando eras passadas

E à minha frente encontro as mil fechadas

Portas intransponíveis do Infinito.

Vagner Rossi

Vagner Rossi
Enviado por Vagner Rossi em 27/07/2009
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