retrato
há
grinaldas de flores frescas na sacada
a enfeitar janela de olhos espertos
o grácil colo cintilado de pérolas
meninice a trançar dedos entre
o perfume dos cabelos
olhos de sub-céu em silêncio
e vésper insone que espreita o dia
há
guardador com flautim a cercar rebanho
asas inquietas de passarinhos sobre o arrozal
pensares que volitam sem tempo
e a sede dum olhar disperso
zumbido amiúde no tronco da laranjeira
mel que escorre do favo sobre árvore de
escritas promessas - fragmentos para o
sorver do colibri
há
poema entre mãos
a arquejar junto ao peito
e borboleta movendo-se sem pausa
à plenitude do instante
hora falecendo minutos à porteira
capítulos de bem-me-quer desolado
e sobras de malmequer em hastes enfileiradas
a trazer pelo renque o prelúdio da noite
que ‘tristece’ o horto
há
um olhar que inerte adormece
ao denso do horizonte:
este olhar
de silêncio