Bucólico

Raios de sol norteiam essa estrada de chão,

árvores sombrias se esquecem de morrer...

Rebeldes frutos se expõem depois do outono que ficou,

maduros, caem amarelando o verde mato...

Ao longe uma colina,

uma casinha de palha, suave visão...

Ali um homem escrevera sua pequenina epopéia...

Depois da curva um riacho, na corredeira uma orquestra natural,

tilintam as pedras com a água, sabor de cachoeira...

Sobre a ponte em madeira roliça passo eu mais uma vez,

ando a pé, porto um ramo de flores do cerrado,

visto chitas nesse contorno de verde e rubro sob os raios de sol...

Meu caminho incerto vagueia entre atalhos soturnos,

carrapichos, guabirobas, poeira e solidão...

Por meu guia tenho um pássaro azul,

ele não sabe seu nome, eu não sei se quero saber o meu,

importa sentir a liberdade de suas convulsivas asas contornando o céu,

Invejar-lhe a leveza, as despreocupações, a lealdade...

Ele quer me mostrar que sabe o caminho,

mas no ar é mais perto o horizonte...

Na estrada de chão tenho tropeços, clareiras, armadilhas, demoras...

E o sol vai se recolhendo à supremacia da noite,

vejo estrelas lindas no alto, pintadas com o contraste da escuridão...

Se as conto, ímpeto se vai, solidão acomete,

seu brilho embriaga-me o ser...

A estrada negra impenetrável corta-me a possibilidade de seguir...

Com gravetos e talos acendo débil fogueira,

ela que não omite o frio e o medo,

meus olhos se entregam, pássaro azul no galho adormece,

sem querer caio torpe nos arredores de lugar sem fim.

Clareiam-me as vistas aqueles mesmos raios de sol,

já ouço os gritos da manhã nas aves madrugadoras...

A estrada fica logo ali, corpo dolorido, esqueço e me levanto...

Vejo a revoada de borboletas tricolores, o vento amacia-me a face...

Sigo eu, o pássaro e a solidão, sem lugar de chegada,

caminho de terra, transitivo caminho que eu mesma escolhi,

lindo, lindo lugar por onde passeia minha fértil imaginação!

Nalva
Enviado por Nalva em 05/07/2006
Reeditado em 05/07/2006
Código do texto: T188071
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