O cair da última pétala
Semente que cai, vento carrega, semente ao chão...
Seduz a terra, a ela possui com requintes de paixão,
as duas uma, romance natural explícito se consuma...
Vem a chuva, nobre sacerdotisa,
celebra a união estável e inigualável da conjunção que ali se faz...
Depois o tempo... calor... alimento...sombra... energia,
dá-se à luz o verde broto, festa da vida, alucinante vitória,
continuação...
Broto cresce, adolesce,
dá o colo à flor que sempre é bela, mesmo que singela
e ali ela adormece o verde que a fecunda,
musa-flor, cantada e deliciada em todos os cantos do mundo,
menina-moça a provocar suspiros da noite,
cuidada pela raiz, serva sua, dedicada sentinela...
Musa-flor de pétalas flutuantes,
parceira do vento nos balés a fascinar,
delicada peça no conceito da vida, fértil mulher,
doce amante do ar que a balança,
formosa a cada uma de todas as visões...
Até que chega ao fim o seu curto espetáculo ao mundo...
Caem-lhe uma a uma as belas pétalas rosadas...
Vai juventude embora como pássaro peregrino,
ela que inspirou, ela que se exibiu, ela que brilhou...
Mulher que chora ao cair da última pétala,
dá-se em lágrimas porque ninguém mais a menciona,
nem o caule que lhe segurou nos dias que se deram até então...
Senhora flor, o cair da última pétala,
senão o que se dera consigo no tempo que a embalou?
Fina-se o derradeiro traço da beleza de outrora
e dali sua frágil existência se esvai...
A voar vão sementes fugindo de tal franzina e insana pele,
a buscar um novo chão que lhes transmute, em novas gestações...
Ao cair da última pétala, a primeira semente...
O ciclo então, esplendor que perpetua o belo,
só a terra sabe o que espera, começar tudo de novo...
Sepultar a pétala última,
preparar-se para a promessa de nova primavera!