Caminho das águas
No meio do caminho das águas
tinha uma moça
despida de si, mas
envolvida nas ondas.
Num caminho distante
das águas da vida.
Era uma poetisa.
Que resolveu buscar inspiração
para compor belos versos
e com eles seu coração alegrar,
mas para isso sabia
que era preciso deixar tudo
Despir-se do pejo
e entragar-se voraz
à melodia que brota da alma
num rio longínquo a rolar
e envolver-se nos braços
e sentir os abraços que vem lhe abraçar
Era uma poetisa!
Sei-o porque também o sou
e só quem se entrega ao delírio
é quem pode sentir
a razão que nos leva a escrever,
tão demasiadamente sobre tanto
Era uma poetisa!
Sei-o porque também o sou.
E sinto dentro de mim
a mesma necessidade
de me despir de mim mesma
e ser pura como as aguas a rolar.
Num caminho das águas da vida
que corre sempre ao mar