Diapositivos de São Lourenço

Olha a chuva chovendo tanto,

olha a vida que a chuva traz.

Olha a chuva, pro meu encanto

continua chovendo mais.

Olha a chuva, olha a Natureza,

verdes campos, jardins de flor.

E o gado, igual beleza

só lá mesmo no interior.

Olha a chuva sem cor a molhar,

mas o gado não acha ruim.

Não é hora de se afastar

desse imenso de verde jardim.

Pois a chuva miúda é carinho

para a mata e as plantas que cantam.

E passeia o feliz passarinho,

é com a gente que eles se espantam.

Olha a chuva, o gado e a vontade

de chuva de choro em mim.

Por que essa inútil verdade

me prende e me dói tanto assim?

Mas, é claro, cheguei a sorrir

e de verde também me molhei.

A porteira cheguei a abrir,

mas o gado passou, e eu fiquei.

É gado, cavalo, galinha,

quanta coisa se tem pra contar...

Quando dez anos eu tinha,

nem era preciso falar.

Da chuva a gente corria,

mas ela molhava e a lama

com banho nem sempre saía,

mas a gente ia limpo pra cama.

Por que a chuva não molha mais

o gado malhado que adoro,

que quando me encara, ele traz

a paz que eu sempre imploro?

A chuva se foi e eu fiquei

com a imagem do gado e o capim.

Mas dele pra sempre terei

os olhos pousados em mim.

Rio, 14/02/1974