ESSE OUTONO

Que eu pensava

Nunca chegar

Bateu-me

À porta

Na forma de uma folha

Amarela

Que eu senti

Uns dias antes

A abanar

Mas não a vi cair

Pois andava tão entretido

Com o mundo

À minha volta

Que não reparei

Nesse pedaço de natureza

Que pinta a alma dos poetas

A despedir-se

Sem um grito de revolta

Pois as folhas

Caem

Para voltar a nascer

Na maravilha

Da estações

Que se vão alternando

E que eu gosto tanto de ver

Mas eu…

Devia ter estranhado

Os dias

Estão mais curtos

E algo

Acabrunhamos

O frio

Lá vai entrando

Sem ter sido convidado

O sol

Já se vai deitando

Mais cedo

E bem devagarinho

Rendendo-se

À noite

Que lá vai chegando

Com alguma ternura esquecida

Com algum carinho

E em breve

Lá trocarei

Os gelados

Pelas castanhas

A Coca-Cola

Por um copo

De chocolate quente

As palavras com luz

Por outras

De um afecto latente

Onde contarei

Histórias

De Outonos esquecidos

De memórias

Do tempo de escola

E não de férias grandes

Onde esse tempo

Demora

Demorava a passar

Não como agora

Que tudo é tão rápido

Que eu não sei

Onde vou parar

Ainda na primavera da vida

Olho para os velhos na rua

Que já vivem o Outono

E sinto-me

De certa forma

Um tolo

Por não saudar a vida

Como a maravilha que é

Pois

Estou na idade

Onde é grande a fé

E por isso

Hoje decidi

Não falar de amor esquecidos

E perdidos

Não da eterna dor que me consome

E que por vezes

Me põe quase louco

Hoje decidi falar

De coisas belas

Presentes

N’

Esse Outono