GATO NO MURO

Dia cinzento lá fora, a chuva apossou-se

do tempo incerto, que se faz sentir,

e as pessoas caminham apressadas

para a rotina diária, que os faz tristes.

Mulheres à janela secam as roupas,

numa incerteza de trapos molhados,

enquanto os gatos se passeiam

com olhos de criança, na sua macia infância.

No entanto a chuva não demove os pardais,

de procurarem a sua comida, andando

em duo, como todos os casais o fazem,

pintando um quadro lindo e quotidiano.

A esta hora as flores estão abertas

para receber a água bem-vinda e desejada,

contrariando o clima quente e de verão

que se faz sentir, numa primavera irregular.

Namorados enleados uns nos outros,

percorrem as ruas de sorriso nos lábios,

parecendo contar segredos que só eles sabem

e conhecem, como as palavras de uma bíblia.

No mais nuvens esgarçadas, são farrapos

de panos velhos, que sujam o céu e os olhos

de quem olha para elas, tentando adivinhar,

que roupa hão-de vestir antes de sair à rua.

Para espanto do gato, que se equilibra

no cimo do muro, uma matilha de cães passa

indiferente ao felino, pelo encharcado,

pela chuva miúda que teima em cair.

Jorge Humberto

26/05/11

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 26/05/2011
Código do texto: T2994451
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