Taças

Havia nele uma magreza esfomeada, pois sempre ali

Mas que lhe fazia belo.

E ao lado de seu braço, a sustentar rosto esquálido

Uma taça de café

Forte, amargo, pó e água perdida dentro

E os olhos...eu nunca esquecerei os olhos dele.

Olhos indefinidos, vagos, profundos, como uma taça de mar

Afogada dentro de um lago vagabundo.

Ele nunca soube de mim

E eu dele soube o que pude

Até que soube afinal

Que a morte o havia convidado a retirar-se

E fiquei imunemente impune

De tê-lo mais, atualizado e presente

Nas vértebras de meu futuro.

Acostumei-me, assim, a olhar o vago da noite

Lembrando-me dele enquanto os festeiros brindavam

Taças ordinárias

De vinho, champanhe e qualquer outra coisa reles

Pois, o precioso de mim estava no fumegar do preto

Em fetiche silencioso

Que o fazia ser quem nunca soube.

LLima

Luciene Lima
Enviado por Luciene Lima em 25/11/2006
Código do texto: T300739