LEMBRANÇAS BUCÓLOCAS

GILBERTO BRAZ ALMEIDA

Ainda me lembro

do velho carro de bois,

do rangido sonoro das rodas

como um violino desafinado

por estradas pedregosas.

Era um choro chorado.

Era um trabalho penoso.

Lá iam os bois perfilados:

_ Oi Canário!... Vamos Dengoso!...

_ Era a voz harmoniosa do carreiro.

Ainda me lembro

do moinho de fubá,

da paisagem bucólica

entre o riacho e o rochedo;

na grota d’água arborizada,

em meio ao verde

dos musgos umedecidos

reinava a roda d’água preguiçosa.

Era um recanto paradisíaco,

era o reino sagrado dos tico-ticos,

antigos fregueses do fubá.

Ainda me lembro

do engenho de cana,

de rudes formas de madeira.

Os burros sempre atrelados

giravam, giravam em círculo.

Formava-se uma cascata

de garapa cheirosa

diretamente para o mundo

das guloseimas.

Ainda me lembro

do solitário monjolo,

das batidas compassadas,

ora socando café,

ora descascando arroz,

num tempo sem fim.

Puf... Puf... Puf...

Como as batidas

do meu coração.

gilbapoeta
Enviado por gilbapoeta em 20/02/2012
Reeditado em 20/02/2012
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