Remissão
Eu hoje resolvi mudar,
retirar do meu pobre léxico
palavras que causam dor.
Não falar, para não ouvir.
Eu hoje decidi mudar minhas roupas
e joguei fora tudo aquilo que é moda.
Vou vestir-me de mim mesmo,
ou seja, serei o máximo que puder
de mim mesmo.
Eu hoje vou cantar hinos sacros,
deixar fluir a presença de Deus
e que anjos e arcanjos e todos os santos me ouçam.
A virgem pura será minha advogada
e a justiça ampla e macro que vem do Alto
me derramará em véus de linho.
Um branco neve e imaculado.
Eu hoje vou deitar ao relento.
Repleto de poesias e estrelas,
sonhar com o amanhã e poder reviver meu ontem.
Em pensamentos fortuitos e perspectivas remotas.
Nada de projetos, nada de cálculos, nada de roteiros.
Apenas o caminhar na estrada. A rua estreita que leva ao destino.
Uma terra prometida e não confusa, mas rica de singeleza.
Um passo de cada vez.
Eu hoje quero o cantar dos pássaros
numa orquestra de sons disformes.
A beleza de cada nascer de sol e o entardecer mais longo.
Quero a noite como abraço cálido,
quero rosas como santos nos altares.
Velas acesas e muita cor.
Uma mistura de paz e inquietude.
Daquilo que somente a fé pode promover.
Aliás, quero a fé como solução. Sempre.
Eu hoje quero o repouso tumular dos pensamentos.
Sonhar com a morte ainda estando acordado e
ao despertar, receber da vida o dom mais precioso.
Permanecer nela com todos os obstáculos.
Viver a cada instante, o instante único.
Eterno momento, raro prazer.
Eu quero rezar como a criança
e agradecer ao Criador a minha nova jornada.
E Dele buscar um único pedido:
o de permanecer sempre na busca da felicidade.
Eu quero isso hoje.