Serendipidade
O acaso, de braços abertos, me convida a criar.
Rogo a Deus a inspiração necessária...
e um vento leve e distraído me traz o que preciso.
Ar nos pulmões, contentamento e um triste balbuciar.
Escrever sobre o mundo e suas loucuras,
tentando entender em cada ser a dor e a delicia,
já cantada por Caetano.
A mais bela frase de amor,
o perdão mais enfático.
A crueldade da verdade.
A mentira perene,
enfim.
A alma na lama de cada um.
Sem muito pensar, me veio assim: e
entregou-me violentamente a vida,
como se dela não mais precisasse.
Usou de fugas e desculpas.
Tropeçando em falsos quereres.
Usei do muito que tive,
usufrui do pouco que veio.
Morro quando deixo a vida se esvair em sandices,
deixo de viver quando a vida se despede dos atos bons.
Impuros sentimentos nas quatro paredes do meu eu.
Corpo caído querendo um motivo.
Último suspiro...
A porta se fechou e a luz deu lugar à penumbra.
O nosso ato descerrou a cortina.
Sem aplausos, assovios, bis.
O amor enforcou-se em lamúrias,
escorregou na vala do rancor,
despencou no abismo angustiante de mágoas.
Calmou-se à espera de salvação
na sala do expurgo.
Nunca mais.