Em pó ou em pus

Digníssimo aquele que perdoa

Pois há de saber que a morte é cega

E, não são poucos os que se encarregam

De por fim àquele que se assemelha.

Digno de perdão não sou e jamais serei

Tampouco pretendo deste ofício, que alega:

Sê tolo, assim como eles são e te sussega!

Podre do que me perdoa, podre do que perdoei!

Caberei, como outro qualquer homem

Numa chícara de chá ao fim de tudo

E se, da chícara e da cinza desfaz-se meu mundo

Que aqueçam os vermes que a vós consomem!

Sê justo! Sê do bem! Mas sê esperto

Qual química dos corpos assim difere?

O aspecto final não é o que tu prefere

Mas horrendo e fétido, estarás de certo!

A menos que numa caixinha qualquer

Queira guardar teus restos já fúteis

E em sequência das orações tão inúteis,

Carbure e em brasa, só cinzas há de se ter!

Iguais em desgraça, iguais em descanso

Recipiente de almas quais se entrepassam

E como as linhas que se embaraçam

Já tendes, em memória, a ser do mais manso!

Por mais que lhes digam sobre deus e a sorte

Já diz (só quem, a angústia, guarda no peito):

"Saberás do teu fim e de certo tirar-lhe-à proveito

Já em pó ou em pus, deliciaremos a morte!"