A benção das folhas

Ventania em setembro,

atravesso a rua Vilela,

de súbito, paro admirado

interrompo a correria

pra tomar o coletivo.

Folhas soltas espalham-se

precipitam-se nas calçadas

feito bençãos sobre as cabeças

e alegremente dançando soltam-se

do abrigo acolhedor dos galhos

Folhas soltas desnudam

o ventre dos arbustos

sardacentas, amarelas,

brindam a chegada da primavera

como surfistas desafiando as ondas.

Folhas soltas parecem

pássaros sem asas, planadores

sonhos de mudanças, visionários

de uma natureza que pede socorro

ante o ritmo destruidor do "progresso"

Folhas soltas repousam

no chão das calçadas nuas,

juntam-se às flores dos ipês,

em belos e inusitados arranjos

como se fossem tapetes coloridos,

Folhas soltas revelam

o magnífico ciclo de evolução

de todas as espécies, "la belle epoque"

no lento processo de amadurecimento

pétalas, flores são como nossa pele

Folhas soltas abençoem

estes seres passantes,

prisioneiros das mesmas passadas,

de tão céleres, sem pausas,

sequer observam estas maravilhas.

AjAraujo, o poeta humanista, escrito em 13-Set-2012.