Bicho do mato

Meninas, meninos moços

Que mostram esse sofrer

Toda essa intensidade

Essas angústias de morrer

De gente aqui da cidade...

Me desculpem, não sou assim

Aprendi a me dar a liberdade

De não me exibir tanto assim

Procuro no silêncio do meu peito

Na reflexão do meu auto-respeito

Um consolo pro meu mal

Seja duradouro, seja passageiro

Prefiro proceder bem assim

Sou bicho do mato, algum gene mineiro

Que veio parar em mim.

Sou quieto com minha emoção

Tenho muita, mas guardadinha

Nela trabalho com a atenção

De quem vigia o anzol e a linha

De um peixe que quer pegar

Com a paciência de esperar

Que “Se der, deu... Se não, Deus dá”.

Sou da montanha, sou da água fria

Da cachoeira no “mei” do dia

Aquela água gelada que cura ferida

Estanca o sangue, fecha mágoa e mordida

De bicho bravo, e tira veneno

De ódio do grande ou dos pequenos

Lá onde eu vou nadar vez ou outra

Pra me lavar do pó e da má energia

Água que afasta aquela gente escrota

Que a gente sempre encontra um dia

Sou da montanha, sou controlado

Pra pular pedras soltas do caminho

Pra não cair no buraco errado

E morrer escondido e sozinho...

Andar na mata com atenção

Saber de que lado fica rio e atoleiro

E não perder a concentração

Perceber um caminho traiçoeiro

Vocês meninos, de vida tão sofrida

Que gostam tanto desse “Capine-já”

Eu digo que pra tudo nessa nossa vida

Tem hora certa pra começar

E lá na roça pra se colher boa lida

Tem que ter calma e saber esperar

Até na hora de se capinar.