A acolhida da amiga Morte
É triste sentir a sombra da morte pairando por perto,
Incompreensível o sentimento de dor,
Daquele que deixa o portão entreaberto,
Sem saber se verá novamente seu grande amor,
Cada segundo que vivo, é na verdade enlouquecedor,
É um segundo de vida, a caminho da morte,
É a chama a se apagar, e perder o ardor,
É esquecer-se da vitalidade que outrora era forte,
A morte que por anos foi uma peste temida,
Não mais mostra ter essa face,
E estende-me as mãos como amiga a ser acolhida,
Por quem das cinzas não mais renasce,
É insensata a morbidez que assola a alma,
Que meu pranto deflagra ao passar de um belo dia,
Que passa destruir a alegria que me acalma,
E me lança ao escuro vale da agonia,
Finito agora o meu universo,
E dele não mais sei o que posso esperar,
Me tira alegria da prosa e verso,
Deixando-me o desespero abraçar,
E só então percebo tão velha amiga, a me receber,
E sem mais lamurias de bom grado me entrego,
A aquela que na velhice, foi a única a me entender ...