EU CRESCI ASSIM

Que saudade me faz brotar

De tão sofrido, mas lindo lugar

Da casa onde nasci e nunca deixei de amar

Do grande quintal a cercar

Do curral que me faz relembrar

O leite in natura fazendo me fortificar

Quanta saudade dali

Dos arredores daquele lugar

Lugar onde vivi, mas não pude ali ficar

Ainda sinto os carinhos de papai e mamãe a me dar

E da casa dos vovós que eu não saía de lá

Da tão lembrada escolinha do meu tio a me ensinar

Quanta saudade que tenho

Do povo que ainda está lá

Do velho fogão a lenha, do bom prato do lugar

Das fogueiras e balões das festinhas para dançar

Em dezembro, os foliões, dos reizeiros a cantar

Fez o povo sua crença e com ela ficará

Lugar de imensa escuridão

E as luas cheias a clarear

Saudades bonitas tenho

Dos sonhos que deixei lá

As belezas e tristezas

No meu coração irão ficar

Dos bons tempos e contra-tempos

De tudo que vivi lá

Lembro-me do sol tão quente

Que meus pés fizeram borbulhar

Andando pra lá e pra cá

Para achar maracujá

Era nativo do serrado e tinha muito por lá

Pequenina lá no mato

Andava por toda parte

Era pra mim desacato

Ver a liberdade me aguçar

Nos arredores do cafundó

Sem temores e sempre só

Com pensamentos a sonhar

Sonhar com coisa real

Diante daquele ideal

Que podia realizar

E na minha melancolia

Na escuridão eu sofria

Com medo de não acabar

Mas, eis! De novo o dia

E a chuva que caía

Fazia meu ego irradiar

Quando olhava lá no céu

Um ponto a clarear

Eram as águas que chegavam

Ao aviso do relampejar

Salteava como as garças

Que apareciam por lá

As lagoas das enchentes

Com aquele sol quente

Me faziam refrescar

Parecia uma sereia

Em suas águas mergulhar

Já chegava a primavera

E que coisa mais bela!

Do meu coração disparar

Mesmo sendo tão singela

Dentre todas a mais bela

Era a flor do manacá

No meu berço de aconchego

No serrado ele era o rei

Fiz do pé de Imbuzeiro

Meu recanto costumeiro

No seu tronco me agarrei

E nos seus galhos eu posei

E os seus frutos degustei

E na festa da floresta

Eu ficava a escutar

Dentre todas as orquestras

Da cigarra ao sabiá

Adentrando pelo campo

Envolvida neste encanto

Do sertão que foi portanto

O lugar a me ensinar.

ALMA DA LUA
Enviado por ALMA DA LUA em 26/08/2005
Código do texto: T45417