Inquietação

Retinta e densa bruma desfolha, renitente,

Reverentes páginas tingidas de brunas tintas

E na retina d’ alma o crepúsculo iminente...

Perdido no perdido, releio páginas marcadas

Por desejos que já não desejo, por paixões extintas,

O diploma eminente que o crepúsculo assume.

Engastadas no peito já ferido, adagas finas,

As garras de ontem ainda hoje me tem pungido;

Loucas lembranças privam do que existo de ainda são;

Inquire-me resenha desmedida, ignóbil, despótica,

Em que se desfazem, como estrelas cadentes na escuridão,

Promitentes novas páginas em coloridas tintas.

Sou paz e sou conflito, sou plenitude e solidão,

E o que de são em mim persiste encontra-me perdido

Nas mesmas páginas de novos manuscritos vãos.

Em novo vão sorriso (pelos mesmos dilemas) sofrido,

Perdida, se me desfaz, calma, um’ outra lágrima

E acalma a angustia, e aquieta a inquietação.