Meu verde, meu ar pintado de verde
Quero sentir teu frescor de mata e capim
Preciso livrar-me dos verdes anos
E de todos os maduros enganos.
 
Meu verde, meu sol filtrado nos galhos verdes
Quero sentir teu ardor clorofila da primavera
Preciso vestir-me de verdes sonhos e projetos
E rumar aos maduros trigais da vida.
 
Meu verde, meu olhar molhado de verde
Quero sentir teu consolar de lágrimas a cair
Preciso deitar-me na verde relva
E esquecer todos os maduros poemas
 
            Aqueles de vinte e dois
            Eram verdes poetas e loucos pintores
            Os maduros parnasianos bilacavam a forma
            Mas no verde sobrevivia o sítio do pica-pau amarelo
 
Meu verde, meu gosto ansioso por verde
Quero sentir teu lumiar de planetas e estrelas
Preciso associar-me à lua peregrina
E sumir nos eclipses e solstícios maduros
 
Meu verde, meu faro traído com o verde
Quero sentir teu esplendor na consciência
Preciso mexer-me por entre arbustos e bambus
E pescar nas maduras barrancas do rio
 
Meu verde, meu pobre mundo sem verde
Quero sentir teu explodir em protestos
Preciso desligar-me de tantos preconceitos
E esperar que a saudade também fique madura
 
            Aqueles do Tape Porã
            São verdes idiotas a lutar na Cidade Interativa
            Os maduros políticos digladiam os projetos
            Mas no verde sobrevivem todas as utopias
 
E assim, de verde em verde, nada fica pra depois
Apenas sobram as verduras murchas na gôndola
Enquanto o vento leva o tempo a Terra morre mais
A cada árvore tombada como sinônimo de progresso
 
Que venham verdes poetas outra vez
Que nasçam verdes sonhos novamente
Que nossos saraus sejam em meio ao verde
E a lua testemunhe nossos verdes amores