UMA TARDE
UMA TARDE
Quisera eu uma tarde
Que fora mesmo linda afinal
Chupando jabuticabas do pé
Aquele do meu quintal...
Meteria os pés na areia
Do leito daquele riacho
Deitaria-me nas águas
Sentindo-as correrem por baixo...
Comeria então um cacho
Daquela bananinha ouro
Pisaria no estrume
Correria daquele touro...
Quisera eu nesta tarde
Sentado sob a goiabeira
Pensar sobre mim e a vida
Como é tão passageira...
Quisera eu numa tarde
Ficar assim bem à toa
Tomando um café coado
Comendo um pedaço de broa...
Lançaria pedrinhas no espaço
Nadaria totalmente nu
Jogaria-me debaixo
Daquela bica de bambu...
Comeria torresmo com angu
Tomaria um gole de pinga
Cantaria moda de viola
Beberia água de moringa...
Quisera eu nesta tarde
À sombra de uma laranjeira
Pensar sobre tudo e a vida
Como é tão passageira...
Quisera eu numa tarde
Ficar assim bem ao léu
Imaginando das nuvens
Figuras lúdicas no céu...
Deitaria-me no colo
Do meu amor, sem demora
Beijaria-lhe os lábios
Ficaria assim sem hora...
Comeria manga e amora
Sujaria-me com prazer
Rolaria pela grama
Aguardando o anoitecer...
Quisera eu nesta tarde
Sentir-me sem eira nem beira
Pensar sobre nada, e nem a vida
Pois que é tão passageira.
Leopoldina, MG.