Aldeia Eletrônica
Passaram-me um e-mail.
Mesmo eu não tendo um computador
Eu estou na Internet.
Essa mensagem eu sei que veio do céu
Hoje estou em “céu de brigadeiro”.
Naquela noite, o céu estava em pintura impressionista
Fui passando em revista
Até parecia que eu estava lendo um jornal
Encontrava-me numa noite de horror,
Mas sei que a mensagem foi de amor.
O céu estava todo na eletricidade
Clareou toda a cidade...
Era tanto trovão
Que formou uma belíssima orquestra sinfônica!
Agora tenho absoluta certeza
De que estou conectado
Com minha aldeia eletrônica.
O meu doce fim se iguala
Às abelhas sem as flores?
O coração fora do compasso,
Com a ausência dos amores...
Quando percorri toda a passarela
A ficha caiu.
O céu já havia mudado de bordado.
Já haviam desligado
Minha tomada
Acordei dentro do “Engenho Mojubá”
Ali estava o verdadeiro jornal
De todos os homens do além-mar.
Ali naquele engenho
Nasceu a festa do Halloween?
Nas festas do engenho
Que era só uma por ano,
Os escravos se mascaravam
Para assustarem os filhos do meu senhor
Num único dia de carnaval
Afastavam da lembrança todo horror.
Não alcancei o luxo da casa-grande
Em pleno Século XXI
Encontro-me dentro de uma senzala...
O céu voltou à pintura realista
Agora não está mais tão bordado
O escravo não sucumbe ao pelourinho,
Ao chicote, ao castigo.
Mas sofre com a ausência
Do cheiro da rapadura...
Estamos conectados aos iletrados,
Aos comuns e aos abestados?!
O sol brilha na manhã de todos?!
Antes que ele se ponha
Para o céu muitos serão levados.
Na juventude abusamos de tudo
Porque somos a eternidade
E, anos depois, na velhice,
Choramos nossa mocidade.
Multidões quebram a cabeça nos caminhos das pedras?
Multidões ficam presas nas redes
Das pedras do caminho?
Quando eu partir
Não me procure em túmulo no cemitério
Já vivi o mistério
Me encontro em outra morada.
Daqueles amores ainda sinto os sabores
Não houve cama
Mas as suas chamas
Ainda queimam dentro de mim...
Quando soltei a mão da alça do caixão
Senti que algo valioso
Saía de minha vida
Mas se até o Salvador
Cumpriu Sua missão,
Eu tenho que cumprir a minha.
Ao ser vomitado
Pra fora do engenho velho
Percebi que havia muita luz
Apontando vários caminhos.
Muitos ficaram ofuscados
Pelo brilho das máscaras
Multidões se perderam entre a fumaça
Das quartas-feiras de cinzas
Bucólicas, melódicas, sinfônicas.
Utópicas ansiedades humanas
Conduziram toda humanidade
Que hoje é escravizada
Pela aldeia eletrônica...